Quero a vida pacata que acata o destino sem desatino Sem birra nem mossa, que só coça quando lhe dá comichão À frente uma estrada, não muito encurvada atrás a carroça grande e grossa que eu possa arrastar sem fazer pó no chão e já agora a gravata, com o nó que me ata bem o pescoço para que o tremoço, o almoço e o alvoroço demorem a entrar quero ter um sofá e no peito um crachá quero ser funcionário com cargo honorário e carga de horário e um ponto a picar. Vou dizer que sim, ser assim assim, assinar a Reader's Digest haja este sonho que desde rebento acalento em mim ter mulher fiel, filhos, fado, anel, e lua de mel em França abrandando a dança, descansado até ao fim. Quero ter um t1, ter um cão e um gato e um fato escuro barbear e rosto, pagar o imposto, disposto a tanto quem sabe amiúde brindar à saúde com um copo de vinho, saudar o vizinho, acender uma vela ao santo. Quero vida pacata, pataca, gravata, sapato barato basta na boca uma sopa com pão, com cupão de desconto emprego, sossego, renego o chamego e faço de conta fato janota, quota na conta e a nota de conto. Vou dizer que sim, ser assim assim, assinar a Reader's Digest haja este sonho que desde rebento acalento em mim ter mulher fiel, filhos, fado, anel, e lua de mel em França abrandando a dança, descansado até ao fim.