Int.: Vai, vai, vai começar a brincadeira Tem charanga tocando a noite inteira Vem, vem, vem ver o circo de verdade Tem, tem, tem picadeiro de qualidade Corre, corre, minha gente que é preciso ser esperto Quem quiser que vá na frente, vê melhor quem vê de perto Mas no meio da folia, noite alta, céu aberto Sopra o vento que protesta, cai no teto, rompe a lona Pra que a lua de carona também possa ver a festa ... Bem me lembro o trapezista que mortal era seu salto Balançando lá no alto parecia de brinquedo Mas fazia tanto medo que o Zezinho do Trombone De renome consagrado esquecia o próprio nome E abraçava o microfone pra tocar o seu dobrado ... Faço versos pro palhaço que na vida já foi tudo Foi soldado, carpinteiro, seresteiro e vagabundo Sem juízo e sem juízo fez feliz a todo mundo Mas no fundo não sabia que em seu rosto coloria Todo encanto do sorriso que seu povo não sorria ... De chicote e cara feia domador fica mais forte Meia volta, volta e meia, meia vida, meia morte Terminando seu batente de repente a fera some Domador que era valente noutras feras se consome Seu amor indiferente, sua vida e sua fome ... Fala o fole da sanfona, fala a flauta pequenina Que o melhor vai vir agora que desponta a bailarina Que o seu corpo é de senhora, que seu rosto é de menina Quem chorava já não chora, quem cantava desafina Porque a dança só termina quando a noite for embora Vai, vai, vai terminar a brincadeira Que a charanga tocou a noite inteira Morre o circo, renasce na lembrança Foi-se embora e eu ainda era criança