O preto velho Gervásio Eu conhecia a um tempão Era um escravo obediente, Foi o dodói do patrão Até foi alforriado, Se livrou da escravidão Ficou ali encostado, Mas a sombra do passado Lhe doía o coração Solo: Conforme passava o carro Na frente do fazendão O preto velho chorava No alpendre do casarão Já tinha perdido as forças Também a própria visão Mesmo assim acompanhava Tudo o que se passava Naquele trecho de chão Pelo cheiro ele sabia Se vinha vindo boiada Mandava fechar a porteira Recolher a criançada Légua e meia ele sabia Quem vinha vindo na estrada Sabia tudo certinho Quem vinha lá no caminho Quem passava na baixada Um certo dia ele disse Que estava vendo na estrada Muita gente em silêncio Fazendo uma caminhada O seus amigos olhavam Na estrada não vinha nada Quando foi dali uns dias Era o preto que seguia Pra derradeira morada Aquela gente em silêncio Naquela estrada comprida Ninguém estava entendendo Era o próprio velho vendo ... A sua própria partida