Chico Buarque {Intro:} Amaram o amor urgente, as bocas salgadas pela maresia As costas lanhadas pela tempestade Naquela cidade distante do mar Amaram o amor serenado das noturnas praias Levantaram as saias e se enluaravam de felicidade Naquela cidade que não tem luar Amavam o amor proibido, pois hoje é sabido todo mundo conta Que uma andava tonta grávida de lua E outra andava nua ávida de mar E foram ficando marcadas, ouvindo risadas, sentindo arrepios Olhando pro rio, tão cheio de lua E que continua correndo pro mar E foram correnteza abaixo, rolando no leito Engolindo água, boiando com as algas, arrastando folhas Carregando flores e a se desmanchar E foram virando peixes, virando conchas, virando seixos Virando areia, prateada areia, Com lua cheia e à beira-mar