Abusou da minha fidelidade Da ausência de maldade Da decência e do excesso de amor Minha transparência é tão verdade Que te deixou à vontade E declarava a minha crença num amor Que era eterno, amor Mas só em mim ficou Toda a dor do tempo, de cada momento E olha o que restou Hoje eu sou nada, amor Nem um fragmento no teu pensamento E fez de mim só lenda de tua história Destilando amores com o pudor de um campador Roubou meus anos, limpou da memória Bebeu do meu pranto, soluçou e se transformou Como transforma a uva em vinho Como transforma a planta em flor Como transforma a folha em ninho Como transforma a chama em dor Há de tomar-me outra vez e meu corpo Domar Sem minha razão consentir Há de provar do amargo que fez teu estrago Se eu desistir de vez