Introdução: Do que o boiadeiro gosta em sua longa jornada É sentir poeira no rosto - o pó-de-arroz da estrada Sentir cheiro de gado, que traz o vento da tarde Qual o perfume mais caro, dos ricaços da cidade. Do que o boiadeiro gosta é um som sentimental Do berrante que virou instrumento musical muitos discos que ouve no final de uma canção O berrante repicando como um grito no sertão. Do que o boiadeiro gosta é dormir sobre o baixeiro Tendo o céu por cobertor e o capim por travesseiro No grande quarto da noite, a grama verde é colchão No telhado do infinito o luar é seu lampião. Do que o boiadeiro gosta é nas tardes de mormaço Fazer um boi pantaneiro rolar na ponta do laço Do que o boiadeiro gosta é ouvir pelas pousadas Os peões contando casos de estouros de boiadas. Do que o boiadeiro gosta é ver a branca neblina Que se forma nas baixadas e sobe pelas colinas A onde a boiada dorme dos espigões às encostas Gostoso é também gostar do que o boiadeiro gosta.