aos poucos vão indo embora as coisas que eu mais gostava... quando morreu meu cavalo por certo deus descansava. era uma tarde de outubro com silêncio de sol-por um vento nas madressilvas ventava anúncios de dor. no céu azul do potreiro a corvada, em vôos rasos, trazia garras de morte mas a gente nem fez caso. quando a manhã veio cedo na recolhida pra encilha faltava um baio cebruno na forma da minha tropilha. um peão de olhos baixos de freio e mango na mão me disse com dor na alma: - morreu seu baio, patrão! as crinas entre as macegas cardavam teias de aranha que a manhã, ainda agora, tinha posto na campanha e os olhos do meu cavalo que há pouco não viam nada... já tinham ganhado o céu pelas garras da corvada! ficou um silêncio largo talvez faltando um relincho... só um choro pelo arame pelo cantar dos pelinchos. olhando o baio estendido pensei, bem quieto, comigo... isso não é coisa, parceiro que se faça com um amigo! coisa triste de se ver um amigo desse jeito... ontem mesmo lhe apertei a cincha no osso do peito! e hoje lhe vejo assim posto em partida, sem viço... se deus bem sabe o que faz não tava sabendo disso! se vai embora o meu baio o pingo que eu mais gostava quando morreu meu cavalo por certo deus descansava!