Alegria nas manhãs Nascia o sol com chocalhos Com as cantorias nos galhos E os berros das marrãs Fui menino nos atalhos De baladeira na mão Guiado pelo meu cão Molhado pelo orvalho Merendava queijo coalho Leite, cuscuz, tapioca Depois saía pra broca Com meu pai e meu irmão Mãe cuidava do fogão Das roupas e da palhoça Da criação e da roça Era eu, meu pai e João Numa festa de apartação Num mês de julho maldito No sítio Capão Bonito Aconteceu a tragédia A égua tomou as rédeas Correu pra mata fechada Numa louca disparada Levando João para o fim Mergulhando nos (espim) Depois de uma rês espirrar Só se ouvia o estralar E os grito do menino Tão pirralho, tão franzino Com doze anos de seca Nas mãos da jurema preta Virou anjo de gibão Eu desandei desde então Deixei a lida de gado Fui embora pra outro estado Abandonei o sertão Não gosto mais de São João De beiju, de macaxeira Nunca mais andei em feira Nem toco mais a viola Mãe, até hoje ainda chora O triste fim do caçula Pai passa o dia na bula Barro, cal, água e cimento Perdi o contentamento Dos meus tempos de criança Guardo apenas a lembrança Nas águas do esquecimento