Sertões afora, grotões adentro Cavalgavam dois, estirando o tempo Que o ódio insiste em arrazoar Um ia na frente, outro vinha atrás Cada qual, desgosto de não poder mais E uma honra manchada pra se lavar Por vales e várzeas, rumavam poente Cruzavam vazantes, geograficamente Cobrindo de pó e vingança O mapa do cerradão Garrucha na mão, o nó na garganta A justiça agora se fará de santa Ao sol suada e soluçada Numa guerra sem perdão Quem é que tá com a razão, ê cumpade? Quem é que tá? Quem é que tá com a razão, meu irmão? Quem é que tá? Morrões acima, ribeirões abaixo Tropeçavam dois, ligeirando o passo Ela não podia mais esperar Um, mais velho, papudo; outro, moço, soldado Esse-um, vagabundo; esse-outro, coitado E os dois na peleja de se arrenegar Quadrante a quadrante, rasgavam tangentes Traçavam secantes, geometricamente Riscando caminhos de dor E sangue pelo chão Um perseguia a vida, outro fugia da morte O outro não via a hora de sair do Norte E o um, no Sul, sonhava e alimentava o dia de voltar pro seu sertão Quem é que tá com a razão... O silêncio na alma, o cansaço na mente Ofegavam dois, guimaraneamente Sertanejando os mistérios Que cercam o coração Lá fora, a razão ainda procura quem Ninguém tem juízo sobre o mal e o bem Só o sertão tem poder de explicação Quem é que tá com a razão...