Coco dendê, coco sinhá Esse coco tá duro , tá bom de ralar Coco dendê, coco sinhá Esse coco tá duro , tá bom de ralar Vovó me ensinava Histórias e cantigas da escravidão Rezava padre-e-nosso e ave-maria Falava de castigos e de assombração Segurava o terço, com lágrima nos olhos E com devoção Dizia: meu menino, essa vida é dura Precisa ter firmeza no teu coração Quando o pai voltava A gente já esperava perto do portão Chegava tão cansado que já nem sorria Tirava em silêncio o velho macacão E num de repente, chamava para um canto Eu e meu irmão Estuda meu menino, que essa vida é dura Mostrava quantos calos tinha em sua mão Mamãe não falava Calada como sempre junto do fogão Sorria de mansinho quando a gente vinha Pedindo tanta coisa, tanta explicação Ela só dizia: criança não tem nada Que entender do mal Pegava no pão duro pra fazer farinha Mandava todo mundo brincar no quintal Quando a gente cresce E pensa nesses dias que tão longe vão Aprende que das coisas duras dessa vida O que machuca mais é a desilusão O pior de tudo Pior do que a lembrança de dormir no chão É ver tantos sorrisos escondendo pedras Sentir tantas mentiras apertando a mão