Travessa Do Poço Dos Negros

Trovante

A história que gente vos quer contar Aconteceu um dia em Lisboa Aonde o tempo corre devagar Chegamos era cedo à ribeira Ainda todo o peixe respirava E a outra carne aos poucos definhava O gemido do cordame das amarras Juntava-se ao lamento dos porões E o que nos chega fora são canções A gente viu sair muita gente que dançava Um estranho bailado em tom dolente Marcado pelo bater das corrente Anda linda Vamos pra ver se é verdade Que lá se pode ouvir cantar Anda linda Vamos ao poço dos negros Pra ver quem pode lá morar Mais tarde fomos ter àquela parte da cidade Que é mais profunda do que maré baixa E a lua só visita por vaidade De novo a estranha moda se dançava Agora com suspiros de saudade Agora com bater de corações Anda linda Vamos pra ver se é verdade Que lá se pode ouvir cantar Anda linda Vamos ao poço dos negros Pra ver quem pode lá morar Batiam-se com barriga e roçavam-se nas coxas Os corpos já dourados de suor E as bocas já vermelhas dos amores Quisemos nós saber qual é o nome desta moda Respondeu-nos um velho já mirrado Lundum mas se quiserem chamem-lhe fado Anda linda Vamos pra ver se é verdade Que lá se pode ouvir cantar Anda linda Vamos ao poço dos negros Pra ver quem pode lá morar