Fernando Farinha / Armandinho Andava de feira em feira, lendo a sina a toda a gente . Ciganita feiticeira, linda como o sol poente De Moura a Vila Viçosa, de Estremoz a Montemor . Jornada longa e penosa, que ela sabia de cor. Os seus olhitos errantes, magoados, sonhadores Eram o sol dos feirantes, estrela dos lavradores Em todos tinha um amigo, como se houvesse fartura De colheita e de ventura, nos seus olhos cor do trigo. E a Ciganita, das sombras humilde escrava . Prometia a toda a gente, riqueza e felicidade Tão expedita nas orações se mostrava . Que o povo ficava crente, como se fosse verdade No entanto, na sua lida, do mistério desvendar . A sina da própria vida, nunca soube adivinhar Um dia, no seu labor, surgiu figura imponente . Um moço da sua cor, mas de raça diferente. Palavras que nunca ouvira, ela ouviu, ela escutou . Fossem verdade ou mentira, a jovem acreditou Novo rumo, nova cruz, alcançaria por ele E lá seguiu atrás dele, como a sombra atrás da luz. Escorraçada, logo se viu, p seu povo . O culpado foi-se embora, desgraçando a Ciganita Desamparada, ás feiras voltou de novo . A ler sinas como outrora, mas já ninguém acredita