Na divisa das estâncias Se encontra a peonada Numa manhã de verão Dum lado o negro João Qu’está curando terneiro Do outro, o Luis e o Pinheiro Qu’estão trocando moirão Comentam de reculutas De capões e vaquilhonas Que estão, de fato, atrasadas Não sobra tempo pra nada Logo que aperta o verão Tem banho, inseminação Pesos de ovelha abichada! E no mais, que Deus ajude Pois pra tudo tem remédio Na esperança dessa gente Humilde, franca e valente Vão disfarçando o cansaço Com fé e força no braço Debaixo desse sol quente E o tempo? Será que chove? Segue a prosa costumeira Co’as mesmas indagações Recordam outros verões Falam da seca, que é bruta Falsas promessas de chuva Contrariando as armações Concordam em muitas coisas Planejam festas campeiras Na Coxilha e no Apertado Um vai levar o gateado Pra experimentar como sai E pras carreira, o que hay É o malacara e um tostado Aroma de pito novo Que se fechou no descanso Que renova e da vigor Um zaino num suador Fica pastando de freio E na sombra um ovelheiro Que se esquiva do calor Charlando esquecem o tempo E se pudessem proseavam Por esta manhã inteira Do estrago da cruzeira Que matou a colorada Ou sobre a potra bragada Que corcoveou quinta-feira E no mais, que Deus ajude Pois pra tudo tem remédio Na esperança dessa gente Humilde, franca e valente Vão disfarçando o cansaço Com fé e força no braço Debaixo desse sol quente